quarta-feira, 13 de agosto de 2014

CONFIAR


O tema pode parecer batido para alguns, mas continua atual e suscita reflexões e reações das mais distintas, desde o estranhamento, indiferença, apatia, raiva e pelo que tenho visto e ouvido principalmente incompreensão. Explico.
Resolvi trabalhar com meus alunos o filme "Confiar". A história em si é bastante simples e direta: uma adolescente ganha um notebook de seus pais, começa a se relacionar virtualmente via chat com um cara que ela acredita inicialmente ser um garoto da sua idade, mas que descobre mais tarde ser na verdade um adulto aliciador de menores, ou seja, um pedófilo. Ela "cai" na conversa dele e acaba sofrendo abuso sexual. A partir daí o filme muda de foco para a questão da família e das dificuldades que as pessoas tem em tratar desse tipo de assunto.
O leitor pode pensar: "E daí, nada de mais, mais uma aula como qualquer outra, etc..." Mas é aqui que a questão ficou interessante, não tanto pelo filme, mas pela reação dos alunos ao assistir ao filme.
Primeiro que muitos tiveram enormes dificuldades em entender o que ocorreu como um abuso sexual: "Mas professor, a menina não berrou", "Professor não foi abuso, a garota não correu, não reagiu". Percebeu o leitor a questão. 
Nossa sociedade ainda reproduz a ideia de que o abuso sexual, o estupro seria a cena clássica de uma mulher andando sozinha à noite e sendo agarrada furtivamente por um tarado qualquer desconhecido e forçada a manter relações sexuais enquanto seus gritos seriam abafados pela mão do estuprador ou do cano de um revólver.
Claro que isso configura estupro, porém não é o único nem o mais comum, apesar de ser bastante eloquente e ser o mais visado pelos meios de comunicação.
O que incomoda é que muitos ainda acreditam que uma criança, uma menor teria como se defender de um adulto que a seduziu e a enredou numa teia de relacionamento, de mentiras. O que muitos não percebem é que uma criança, principalmente uma criança tímida, introvertida e insegura jamais conseguiria esboçar uma reação à altura do seu abusador.
Pois é, parece que nós educadores ainda temos um longo caminho pela frente para superar esses pré-conceitos, mitos modernos sobre as relações e a capacidade de defesa das pessoas, especialmente crianças e adolescentes.

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